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Levantamento Bibliográfico

A matéria de hoje tem como proposta complementar nossa matéria anterior sobre elaboração de projeto e apresentar algumas etapas necessárias para fazer um levantamento bibliográfico: item essencial que fornecerá pesquisas para embasar nosso projeto, justificar nossa metodologia e, futuramente, confrontar nossos dados. 

Delimitação do Tema

Podemos considerar que uma das partes mais difíceis, quando se propõe pesquisar/estudar algo, é realizar a delimitação do tema a ser estudado. Porém, esta delimitação é essencial para poder traçar os objetivos a serem alcançados e primordial para a revisão de literatura.

Para Silva e Menezes (2005) e Galvão (2010), quem realiza uma revisão de literatura se fortalece intelectualmente – fundamentação teórica – com o conhecimento coletivo, a fim de: evitar a duplicação de pesquisas; realizar a replicação de estudos em diferentes populações e contextos; conhecer os recursos necessários para a realização de um estudo; desenvolver estudos que respondam as lacunas da literatura; propor temas, hipóteses e metodologias inovadoras; e otimizar recursos disponíveis que subsidiam a ciência. 

Quanto aos objetivos da revisão de literatura, temos (LUNA, 1997):

  • determinação do “estado da arte”:mostrar por meio da literatura o que já foi publicado sobre o assunto, as lacunas existentes e as principais dificuldades teóricas ou metodológicas;
  • revisão teórica: tem por meta explorar um tema cujo problema encontrado é gerado ou explicado por uma teoria particular ou por várias; 
  • revisão empírica: explicar como o problema vem sendo pesquisado do ponto de vista metodológico – quais procedimentos geralmente são empregados? Quais fatores afetam os resultados?; 
  • revisão histórica: recuperar a evolução de um conceito, abordagem ou outros aspectos que expliquem os fatores determinantes e as implicações das mudanças. 

Pensando, então, na delimitação do tema e na sua revisão, é recomendável que você adote a metodologia de pesquisa bibliográfica. Esta se refere ao levantamento da literatura já publicada em forma de livros, revistas, publicações avulsas, na forma impressa ou eletrônica eem bases de dados nacionais e internacionais.

Portanto, o próximo passo a ser dado é escolher quais termos (palavras ou descritores) estão relacionados ao nosso tema e quais cruzamentos devem ser feitos. Veja o próximo tópico.

Seleção de Termos e Estratégia

Aqui, precisamos selecionar os termos adequados para a elaboração da estratégia de busca. Para isso, partimos do tema e começamos a elencar descritores ou palavras relacionadas. 

Os descritores são termos padronizados, definidos por especialistas, cuja finalidade principal é fazer coincidir a linguagem do pesquisador com a indexação de artigos de revistas científicas, livros, anais de congressos, relatórios técnicos, e outros tipos de materiais (CUNHA; CAVALCANTI, 2008; BVS, 2009). Porém, alguns termos que escolhemos não são indexados – são considerados como palavras, e isso não significa que não podemos usá-los, mas que devemos nos atentar como vamos inseri-los na estratégia de busca.

A BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), por exemplo, possui uma terminologia própria denominada Descritores em Ciências da Saúde (DECS). Aqui podem ser pesquisados os termos em português (e seus correspondentes em inglês e espanhol) que você elencou e verificar outros que também podem ser utilizados, além de poder utilizá-los na pesquisa e recuperação de informação das bases de dados gerenciadas por ela (BVS, 2009). 

Há também, vinculado a BVS, o banco de terminologias denominado Terminologia em Psicologia e sua forma de trabalho é semelhante ao DECS.

Vamos supor que o tema escolhido para a pesquisa seja, por exemplo, “qualidade de vida e consumo de álcool de estudantes universitários”. Acreditamos que se trata de um tema amplo e as informações disponíveis são vastas. No entanto, ninguém possui tempo para ler tudo, por isso precisamos selecionar os textos relevantes e pertinentes à temática com cautela. 

Se quero fazer um levantamento sobre ele, posso utilizar inicialmente os termos “qualidade de vida”  e “consumo de álcool” para buscar no DECS, veja a figura a seguir:

.

Observe que quando procurei “consumo de álcool” o termo que está indexado é “consumo de álcool na faculdade” e para ambos os termos pesquisados o DECS apresenta alguns sinônimos ou termos relacionados, que podemos também incluir em nossas buscas. 

A partir disso, podemos elencar novos termos (e.g., estudantes, universidades, alcoolismo, transtornos relacionados ao uso do álcool, entre outros) para ampliar nossa busca e conseguir encontrar estudos que diferem na utilização de seus descritores.

Uma vez elencados os termos possíveis para representar o tema de pesquisa, vamos para a construção das estratégias de buscas para o uso nas Bases de dados (falaremos delas no próximo tópico).

A estratégia de busca é baseada em operadores lógicos, os mais utilizados são os operadores booleanos que substituem implicitamente os espaços entre os termos, por exemplo: 

  • AND: conteúdo que contenha simultaneamente os termos;
  • OR: conteúdo que contenha pelo menos um dos termos;
  • AND NOT: conteúdo que contenha um termo e não o seguinte.

Por exemplo, abaixo mostramos uma estratégia empregando os operadores booleanos AND(e), OR (ou) e AND NOT (e não).

Estratégia 1 – Faculdade OR Campus OR Universidade
Estratégia 2 – Faculdade AND Campus AND Universidade  
Estratégia 3 – Faculdade NOT Campus 

Fonte: https://www.researchgate.net/publication/303042740_Pesquisa_na_Internet

A partir desse exemplo, podemos observar que o emprego de estratégias de busca e da terminologia possuem impacto sobre as pesquisas que serão recuperadas. 

Eleção da Base de Dados a ser Consultada

Uma vez definida a temática e os termos, é preciso definir qual fonte de informação será utilizada. Em âmbito científico e acadêmico, sugere-se consulta às Bases de dados bibliográficos, por conterem informações de melhor qualidade e serem destinadas à públicos específicos (e.g., áreas da saúde, psicologia, educação) (CUNHA, 2001).

Bireme (Biblioteca Virtual em Saúde) é uma interface que comporta bases de dados importantes na área de Saúde no Brasil. O seu acesso é livre.

Algumas bases de dados importantes são: 

  • LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde – Compreende a literatura relacionada às ciências da saúde; 
  • ADOLEC – Saúde na Adolescência – Contém referências bibliográficas da literatura internacional sobre a saúde de adolescentes e jovens; 
  • WHOLIS – Sistema de Informação da Biblioteca da Organização Mundial da Saúde – contém publicações da OMS e das Representações Regionais.

O site do Instituto de Psicologia da USP sugere, para buscas na área, as seguintes bases: 

PsycINFO – Desenvolvida e mantida pela American Psychological Association (APA), é considerada a mais importante base de dados da área. Reúne, organiza e divulga literatura relevante publicada internacionalmente na área da Psicologia e disciplinas correlatas. Acesso restrito.

Web of Science – Mantida pelo grupo Thomson Reuters, a Web of Science é uma plataforma de compartilhamento, busca e análise de informações científicas em diversas áreas do conhecimento. Acesso restrito.

Scopus – Iniciativa da editora Elsevier, Scopus é um banco de dados de resumos e citações de trabalhos científicos em diversas áreas do conhecimento. Acesso restrito.

MEDLINE / PubMed– Produzida pela National Library of Medicine (NLM, EUA), é a mais reconhecida e valorizada na área de saúde. MEDLINE, especificamente, é um extrato do PubMed em que os artigos são indexados a partir de descritores próprios, o Medical Subject Heading (MeSH). Indexa revistas da área de ciências da saúde e disciplinas correlatas, que são incluídas a partir de um rígido processo de avaliação. Acesso aberto.

PePSIC – Vinculado à Bireme, o portal  Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC) reúne uma coleção de revistas científicas em Psicologia e áreas afins, publicadas com texto completo. É o maior portal de revistas da área de Psicologia. Acesso aberto.

SciELO– Vinculado à Bireme, biblioteca eletrônica que fornece acesso a textos completos de uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros em diferentes áreas do conhecimento. Acesso aberto.

As bases de dados de acesso restrito, podem ser acessadas internamente em institutos de pesquisa e universidades, ou pelo Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que disponibiliza bases de dados de acesso restrito, mediante convênio institucional. 

De maneira geral, a maior parte das bases permite a realização de buscas simples (utilizando um descritor ou palavra) ou busca avançada, que permite um maior refinamento na pesquisa utilizando algumas ferramentas como: 

  • especificar um determinado período para a pesquisa (ex: 2009-2019). 
  • tipo de pesquisa: descritor de assunto, autor, palavras do título. 
  • tipo de estudo (revisão, experimental), população (humanos, animais), faixa etária, entre outros. 
  • periódico no qual o documento foi publicado, idioma de publicação, tipo de publicação (livro, anais de eventos, artigos de periódicos, teses) e disponibilidade (acesso livre, acesso restrito etc.). 
  • Operadores: OR, AND e AND NOT, para refinar a pesquisa. 

E, após realizar a sua busca…

Seleção das Pesquisas e Sistematização de Informações

Uma vez que se tenha feito o cruzamento e obtido um número significativo de referências, precisamos estabelecer alguns critérios para a leitura e definir melhor se tais estudos são relevantes para o nosso tema.

Segundo Moher e colaboradores (2009), o processo de seleção e resultados do levantamento bibliográfico é permeado por 4 etapas:

  • Identificação: verificar os resultados encontrados nas diferentes Bases de dados com o intuito de excluir trabalhos repetidos (um mesmo trabalho encontrado em diferentes bases), excluir trabalhos cujo idioma não é reconhecido pelo pesquisador (e.g., russo, japonês);
  • Análise: realizar a leitura do título e dos resumos para verificar sua pertinência quanto ao tema;
  • Elegibilidade: leitura dos textos na íntegra para verificar seu conteúdo, escopo e pertinência;
  • Inclusão: por fim, os trabalhos que realmente serão incluídos na sua revisão bibliográfica.

Por fim, uma dica: crie uma pasta no seu computador e salve o texto na íntegra (.pdf) de todas as pesquisas e padronize o nome dos arquivos por ano e autor (e.g., 1999, SILVA; COSTA; CAPOVILLA), assim você consegue seguir uma cronologia e encontrar rapidamente o arquivo pelo ano de publicação ou pelo nome do autor. 

Esperamos que essa matéria tenha esclarecido algumas de suas dúvidas. Na próxima vamos falar um pouco sobre a normalização de trabalhos acadêmicos.

Quer conhecer as outras matérias da Série Vida Acadêmica? Clique aqui.

Mapa criado pela autora.

Referências 

BVS. Biblioteca Virtual em Saúde. 2019. Disponível em: http://brasil.bvs.br. Acesso em: 26 de junho de 2019. 
CAPES. Portal de Periódicos. 2019. Disponível em: https://www.periodicos.capes.gov.br/. Acesso em: 26 de junho de 2019.  
CUNHA, M. B. Para saber mais: fontes de informação em ciência e tecnologia. Brasília: Briquet de Lemos/Livros, 2001. 168p. 
GALVÃO, M. C. B. O levantamento bibliográfico e a pesquisa científica. In: FRANCO, L. J.; PASSOS, A. D. C. (Org.). Fundamentos de epidemiologia (2rd ed.). São Paulo: Manole. (2010). Disponível em: http://www2.eerp.usp.br/Nepien/DisponibilizarArquivos/Levantamento_ bibliografico_CristianeGalv.pdf. Acesso em: 26 de junho de 2019. 
LUNA, S.V. Planejamento de pesquisa: uma introdução. São Paulo: EDUC, 1997. 
MOHER, D. et al. Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: the PRISMA statement. Annals of internal medicine, v. 151, n. 4, p. 264-269, 2009.
SILVA, E. L. D.; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. Florianópolis: UFSC, 2005. 138p. 

Autora: Tâmara Lindau: Fonoaudióloga e Mestra em Fonoaudiologia – UNESP/Marília; Doutora em Psicologia – UFSCar/São Carlos; Graduanda em Psicologia – UNIMAR/Marília


Publicado por em 8 de novembro de 2019 | 1.562

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