Mulher brasileira

Ser mulher no Brasil é sinônimo de viver uma batalha constante pelo próprio espaço. Há cerca de 200 anos, a maioria das mulheres era educada e ensinada desde a juventude a como ser uma boa esposa ou mãe. Essas eram as únicas possibilidades da época, visto que as mulheres não frequentavam escolas, não possuíam direito ao voto e sua posição social era somente familiar, sem terem nem sequer o direito à herança ou à decisão do não matrimônio.

Hoje, muitas coisas mudaram, vivemos em uma era em que os limites entre as funções anteriormente classificadas como masculinas ou femininas não são bem definidos. As mulheres, anteriormente vistas somente como mães ou até como propriedades dos homens, conquistaram diversos direitos ao longo dos séculos e hoje são vistas legalmente como seres humanos semelhantes aos homens, possuindo os mesmos direitos e deveres. Mas, será que as mulheres realmente possuem igualdade em relação aos homens na vida cotidiana?

No Brasil, o mercado de trabalho paga 20,5% menos para mulheres do que para homens. Somos o quinto país que mais mata mulheres no mundo. Estudos apontam que 65% dos abusos envolvendo violência doméstica contra mulheres não chegam nem a ser relatados às autoridades.  Além de todas as questões envolvendo direitos trabalhistas e de segurança pública, existem ainda as pressões sociais para que a mulher desempenhe seus novos papéis de forma tão efetiva quanto os homens, mas com a contínua e cansativa rotina de ser a principal responsável pelo cuidado da casa, dos filhos e do marido. 

Pensando em todo o histórico social de nosso país, que sempre promoveu a mulher como sendo a principal responsável pela educação dos filhos, atividades domésticas e cuidados com o cônjuge, temos uma visão mais ampla dos motivos que levam as mulheres a ter menos presença efetiva nas posições de relevância social, política e corporativa.

Segundo uma pesquisa do INEP sobre a Trajetória da Mulher na educação brasileira, as mulheres estudam mais do que os homens e já são maioria em todos os níveis de ensino, especialmente no nível superior. Em análise às pesquisas recentes realizadas pelo IBGE, onde foram analisadas horas trabalhadas, cor/raça, idade, nível de instrução escolar entre homens e mulheres de 35 a 49 anos, os resultados apontam para diferenças salariais entre homens e mulheres com discrepâncias salariais cada vez maiores, quanto maior o nível de instrução entre eles.

Portanto, neste momento atual de transição entre funções sociais, como garantir na prática que as mulheres possuam os mesmos direitos que os homens e não sejam sobrecarregadas pelas diversas funções sociais que exercem?

O nosso modelo educacional e profissional é majoritariamente masculino e por isso existe tanta dificuldade nos processos de desenvolvimento para mulheres alcançarem o sucesso profissional e independência intelectual. 

Para iniciar a mudança efetiva nas diferenças salariais entre homens e mulheres hoje, não existe fórmula perfeita. É necessário que exista uma combinação de fatores educacionais e sociais, com as mulheres buscando cada vez mais qualificação e posicionando-se de forma mais obstinada nas relações de trabalho. No entanto, juntamente com as transições entre as ações femininas para lidar com essa questão, é imprescindível que exista uma maior cooperação masculina com o movimento de igualdade salarial.

Existe também uma diferença importante a ser colocada em pauta: as mulheres hoje não buscam somente igualdades perante os homens. Existe a busca pela equidade também. Conforme a definição de dicionários atuais, a igualdade se refere a situações idênticas e equivalentes para todas as pessoas e situações, e a Equidade se refere à capacidade de apreciar e julgar com retidão, imparcialidade e justiça. Sendo assim, as mulheres não querem ser somente enxergadas social e juridicamente como seres civis iguais aos homens, mas também buscam a equidade para que as exigências sociais entre homens e mulheres não possuam tanta disparidade como possuem hoje. 

Aplicando o conceito de equidade na prática, podemos buscar soluções alternativas que tornem a mulher tão valorizada quanto o homem pela pluralidade de funções que elas exercem. Por exemplo, nos últimos anos vêm sendo discutidas legislações mais justas no que diz respeito ao feminicídio, garantindo leis mais rígidas em casos de violência e homicídio contra mulheres. Também vêm sendo discutido o aumento do período de licença paternidade para os homens, para que as funções paternas sejam mais presentes e tenham mais equilíbrio em relação ao seu papel.

Além de buscar soluções no campo jurídico, podemos também buscar soluções nos comportamentos sociais, colocando progressivamente em pauta o posicionamento da mulher no mercado de trabalho, buscando soluções justas e que compreendam todo o contexto social em que a mulher está inserida. Uma das formas mais efetivas de garantir um futuro de qualidade para mulheres ainda é o fortalecimento de programas sociais voltados para saúde e educação das mulheres. 

Considerando as diversas dificuldades para administração do tempo e recursos com as responsabilidades atribuídas à mulher dentro da sociedade, a tecnologia pode ser uma excelente ferramenta para auxiliar a celeridade desse processo. Como exemplo, os cursos de graduação superior a distância podem ser vistos como uma ferramenta para possíveis soluções para as atuais dificuldades sociais. Por meio delas, é possível oportunizar que mulheres desenvolvam sua educação e o potencial de trabalho, conquistando sua equidade através de estudos com horários mais flexíveis e que são possíveis a diversas classes sociais, visto que os custos dos cursos superiores ofertados na modalidade a distância são mais baixos do que os custos de mensalidades de cursos superiores na modalidade presencial.

Ainda temos um longo caminho a percorrer para que as mulheres possuam as mesmas oportunidades de vida e carreira que os homens. Porém, a tecnologia e o crescente movimento da busca pela valorização da dignidade das pessoas vêm suavizando esse processo e mostrando que devemos buscar a evolução constante de nossas relações sociais e do pensamento humano.

Vitória Kubitz Pardo – Advogada, Especialista e Tutora em educação a distância, e Mestranda em Direito pela Universidade de Marília.


Publicado por em 10 de outubro de 2019 | 223

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